Tutelados pelo executivo, que os hipnotiza com as benesses e os pressiona com a força do poder das obras e das nomeações, os parlamentos viraram imensas arenas de sonâmbulos. Perderam a tradição de poder fiscalizador, de representação popular, e se reduziram a meras câmaras homologatórias dos governantes que fazem o que querem e agem como bem entendem, sem a preocupação de prestar contas dos seus atos e dos seus governos aos cidadãos que os elegeram.
Pior é que a exemplos dos reis, apossam-se em família do Estado com os recursos arrecadados do contribuinte, governam com leis draconianas, elegem os que lhes são convenientes e expulsam da vida pública aqueles que tentam fazer-lhes oposição. Os que conseguem escapar do raio seletivo do executivo formam hoje a imensa minoria e atuam como vozes solitárias que conseguem ser ouvidas apenas pelo grito de coragem e pela força do idealismo que os sustentam na espinhosa missão.
Repetem-se no plano federal, como nos estadual e municipal, os escândalos de sempre, a maioria deles sem esclarecimento e sem definição dos responsáveis. E quando, pelos testemunhos flagrantes das irregularidades, são reconhecidos os culpados, eles contam com a certeza da impunidade. Terminam colocando a culpa na imprensa que os denunciam ou na oposição fragilizada pela falta de eco da sua ação fiscalizadora. O clima é desencorajador para essas vozes que enfrentam o poder despótico no esforço
desesperado de cumprir o papel que a sociedade lhes atribuiu.
Entre alguns desses guerreiros que não abrem mão de fazer com que os parlamentos cumpram com sua missão fiscalizadora e cobradora das ações do executivo, acompanhamos a atuação do deputado Heitor Férrer, do PDT. Ele não se faz de omisso nem se rende a nenhum tipo de concessão para deixar de
cobrar aquilo que é justo, que é legal e é sobretudo dever no exercício do seu mandato. Cobrar, pelos meios legítimos, que os governantes digam ao povo o que fizeram de suas viagens, dos seus gastos, da sua conduta e dos seus atos como administradores públicos.
Se há dúvidas quanto a esses tipos de comportamentos ou se não foram devidamente esclarecidos como manda a lei, é função do legislativo cobrar as explicações devidas. E não pode ser motivo de desonra para o governante o ter que prestar os esclarecimentos pleiteados, para resguardo da própria integridade moral, se é que esteja em paz com a consciência.

Wanderley Pereira é jornalista