Oscar 2011: um show de previsibilidade

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011.
Os favoritos Natalie Portman, Colin Firth e O Discurso do Rei confirmaram as apostas em seu nome e levaram as estatuetas de melhor atriz, ator e filme, respectivamente. A 83ª edição do Oscar não foi, como se vê, de grandes surpresas. Nem a apresentação da dupla James Franco e Anne Hathaway foi digna de nota, embora tenha se tentado dar graça à dupla – como no momento em que eles trocam de figurino, ele surge vestido de mulher e ela, de homem. Confira abaixo, em tópicos, os momentos que definiram o Oscar 2011.
- Quando Steven Spielberg anunciou O Discurso do Rei como vencedor na categoria Melhor Filme, a plateia aplaudiu sentada. Uma recepção à altura do premiado. A despeito do número de indicações, doze ao todo, o filme dirigido pelo inglês Tom Hooper nem de longe pode ser tratado como merecedor da estatueta. Vencê-lo não o torna o melhor filme lançado em 2010. Anunciar os concorrentes tendo como pano de fundo a voz de Colin Firth discursando como George VI teve o mesmo efeito de Sophia Loren premiando Roberto Benigni (os dois italianos), por A Vida é Bela, em 1999: anulou qualquer hipótese de surpesa.
- Mas o Oscar não existe para fazer justiça ou satisfazer o público, antes disso, para premiar quem sobressai no festival de lobby dos bastidores. Uma campanha como qualquer outra eletiva. Nada mais significativo, portanto, que o agradecimento no discurso do vencedor a Bob Weinstein, produtor de cinema dos mais argutos e astuciosos, conhecido por seus métodos escassos de honestidade. O Oscar é dele, que fez de O Discurso do Rei o filme favorito nas últimas seis semanas de campanha. Respondeu com o prêmio a acusação de que o personagem no qual se baseia a obra tinha simpatias anti-semitas, assunto que corria entre os votantes em correspondências anônimas.
O Discurso do Rei, um filme correto, com uma grande atuação de Colin Firth, premiado com o Oscar de Melhor Ator, entra com honras na categoria das vitórias contestáveis de Hollywood. Como foi Shakespeare Apaixonado, de John Madden, vencedor do Oscar de Melhor Filme em 1999, frente a O Resgate do Soldado Ryan, de Steven Spielberg. Ou, mais recentemente, em 2006, Crash, de Paul Haggis, vencendo a disputa contra Brokeback Mountain, de Ang Lee.
- Não deixa de ser irônico que Spielberg, garfado em 1999 pelo mesmo Weinstein, então à frente da Miramax, tenha anunciado um prêmio tão passível de discussão quanto aquele. Blindou-se ali mesmo, no palco, ao dizer que o perdedor da noite se juntaria ao rol de grandes filmes que não venceram a premiação, como Cidadão Kane e Touro Indomável. David Fincher deve ter entendido o pedido de desculpas.
- Nas categorias de atuação, nenhuma surpresa ou nada que os prêmios anteriores como o Globo de Ouro não adiantaram. Natalie Portman (Cisne Negro) como melhor atriz, Melissa Leo (O Vencedor) como melhor atriz coadjuvante, Christian Bale (O Vencedor) como melhor ator coadjuvante e Colin Firth (O Discurso do Rei) como melhor ator eram mais do que esperados. De tanta previsibilidade, foi enfadonho. Vide Melissa Leo fingindo surpresa.
- James Franco e Anne Hathaway devem entrar para a história da premiação mais pela jovialidade – e a beleza de Anne – que pelos números realmente bem humorados. Nada que se compare, vejam só, às piadas enferrujadas de Billy Crystal. Deu até saudade quando ele apareceu. Franco parecia o personagem enfumaçado que interpretou em Segurando as Pontas, de tão aéreo.
- Mais ágil, com discursos mais curtos e com um bom trabalho nas redes sociais, a academia aparentemente conseguiu atrair a audiência do público apreciador do trabalho dos dois apresentadores, ou seja, jovens e conectados como eless. Durante toda a cerimônia, sete dos dez temas mais comentados no Twitter diziam respeito ao Oscar. Nem sempre elogios.
- Celine Dion cantando Smile em homenagem às personalidades do cinema mortos entre 2010 e 2011 pode ser considerado uma segunda morte. Cafona e dispensável.
- A Rede Social, talvez o melhor filme entre os dez indicados, saiu do Kodak Theatre com três Oscar. A saber, por roteiro adaptado, montagem e trilha sonora. Este último, prêmio merecido para o excêntrico Trent Reznor, líder da banda Nine Inch Nails.
- O Discurso do Rei e A Origem empataram com quatro Oscar cada. O segundo, naquilo que fez por onde merecer – detalhes técnicos: fotografia, mixagem, edição de som e efeitos especiais.
- Além de Melhor Filme, O Discurso do Rei levou para casa as estatuetas de Melhor Diretor, Ator e Roteiro Original.
- Em resumo, um Oscar previsível. Por isso mesmo, bem chato. Encerrar a cerimônia com um coral de crianças deixou a coisa parecida com uma edição de show beneficente, uma quermesse de paróquia.

Por Rodrigo Levino

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